domingo, 3 de março de 2013

Graça e obras: o encontro de Paulo e Tiago


Por Elson Rodrigues          


           Na carta de Tiago, lemos:

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
    Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
    Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
    Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2: 17-24)

Nas cartas de Paulo, lemos:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Efésios 2: 8-9)

“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3: 24)

“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.” (Romanos 11: 6)

“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.”  (Romanos 3: 27-28)

   Não se pode negar que há uma aparente contradição entre o que diz Tiago e o que diz Paulo. Mas, notemos bem, essa contradição é somente aparente. Não se trata de contradição verdadeiramente existente. Por quê? Vamos analisar.

   A Bíblia é a Palavra de Deus. Toda a Bíblia, desde a primeira letra de Gênesis até a última de Apocalipse, é a Palavra de Deus, inerrante e infalível. A Bíblia nos diz que não foram os homens, mas sim todas as palavras que a compõem foram divinamente inspiradas, escolhida por Deus. Vejamos:

Toda a Escritura é divinamente inspirada , e proveitosa para ensinar , para redargüir , para corrigir , para instruir em justiça;” (2 Timóteo 3: 16) 

Se todas as palavras da Bíblia foram inspiradas e escolhidas por Deus, é claro que não há contradição verdadeira entre nenhuma parte da Bíblia. Todas as contradições que possamos pensar haver são apenas aparentes e, verdadeiramente, o estudo sério da Palavra de Deus, com humildade, oração e sob a instrução do Espírito Santo, nos levar a entender o que o Senhor quis nos dizer em cada caso.

   Dessa forma, não se trata de Paulo e Tiago. A Bíblia não é a palavra de Paulo e não é a palavra de Tiago. Tanto Paulo quanto Tiago foram meros instrumentos nas mãos do Espírito Santo para que a Bíblia fosse escrita. O que Paulo escreveu é, em verdade, o que Deus determinou que fosse escrito “para ensinar , para redargüir , para corrigir , para instruir em justiça”. Da mesma forma, o que Tiago escreveu é, em verdade, o que Deus determinou que fosse escrito “para ensinar , para redargüir , para corrigir , para instruir em justiça”.

   Como foi o mesmo e único Deus quem determinou o que Paulo escreveu e o que Tiago escreveu, é claro que não há nenhuma contradição real entre o que escreveu Paulo e o que escreveu Tiago.

   A partir disso, é certo que devemos buscar uma interpretação que harmonize o texto de Tiago com o texto de Paulo e vice-versa. Paulo e Tiago se encontram e não se opõem.

A pergunta que surge, então, é: a salvação é apenas pela graça, por meio da fé, ou é também por obras? 

Vamos começar vendo quem é o homem, para que saibamos se o homem é capaz e pode fazer obras que o conduzam a ser salvo. Vejamos pela própria Bíblia:

“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” (Romanos 3: 10)

“Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.
E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
    Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7: 15-24)

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64: 6)

   Leia novamente o último versículo acima transcrito. Agora, responda: as nossas obras (as minhas e as tuas, inclusive), as nossas justiças, são retas? A verdade bíblica é que o homem é uma criatura pecadora e cujas obras são como trapo da imundícia. As tuas obras não são assim? Você é bom e justo? Você merece ser salvo? Leia abaixo:

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3: 23)

“Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1 João 1: 10)

   Enquanto o homem não entender a gravidade de sua situação diante de Deus e enquanto o homem não entender que não há nada no próprio homem que o possa justificar, ele continuará a ser enganado por sua natureza pecadora e pelo diabo. A nossa natureza pecadora e o diabo procuram nos enganar e nos dizer que somos bons, ou que não somos tão maus assim. Mas isso é mentira.

   Você sabia que existe uma instituição chamada “Igreja de Satanás”? Na página deles na internet, houve ou ainda há, logo na entrada, o seguinte texto: “estamos à procura de uns poucos indivíduos excepcionais”. O diabo quer dizer ao homem que o homem é bom, podendo ser excepcional. O diabo exalta o homem justamente para cegar o homem, para que o homem não veja sua verdadeira condição, que é de um pecador que somente merece ser condenado e que está gravemente separado de Deus. O diabo faz isso, porque, se o homem tiver seus olhos abertos, entenderá o evangelho da graça de Deus. O diabo te diz que você é bom e que tuas obras são boas.

   Mas a Bíblia, como já vimos, nos mostra a verdade. Nós diz que somos maus. Vamos repetir:

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64: 6)

“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” (Romanos 3: 10)
 
   Jesus nos disse expressamente que somos maus:

Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7: 11)

“...Ninguém há bom senão um, que é Deus” (Marcos 10: 18)

   Por que o diabo nos diz que somos bons, e Deus nos diz que somos maus? Quem está mentindo? Deus ou o diabo?

“Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.
Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra.
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.
    Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.” (João 8: 44-45)

   Notemos o texto acima. Jesus deixa claro que o diabo é o pai da mentira. Você vai dar ouvidos a quem? Ao diabo que te diz que você não é tão mau assim? Ou a Deus que te diz que você é mau? Leia com toda atenção o texto acima antes de responder.

   Por mais que isso possa ser duro, a verdade é que somos maus. O homem é uma criatura má e está separada de Deus pelos seus pecados. As obras do homem são como trapos da imundícia. Não há um justo sequer. Então, vamos encarar os fatos. Como você (ou eu ou qualquer homem) poderá ser salvo pelas tuas obras?

   O evangelho não é a escolha de Deus a partir de homens bons ou maus. Deus não nos escolhe por fazermos boas obras. Se esse mesmo Deus diz que todos são pecadores, que ninguém é bom e que ninguém é justo, como Ele poderia escolher alguém a partir das obras feitas por esse alguém?

   A escolha de Deus vem da graça (o favor imerecido de Deus sobre um homem que nada merece além de ser condenado). A Bíblia nos diz que Deus ama o crente mesmo antes de o crente ser reconciliado com Deus. Deus ama o crente mesmo quando este ainda era inimigo de Deus. Vejamos abaixo:

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Romanos 5: 8-10)

É só pela graça:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Efésios 2: 8-9)

“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3: 24)

“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.” (Romanos 11: 6)

   Até aqui, já vimos que o homem é uma criatura má, cujas obras são como trapos da imundícia. Será que um Deus absolutamente santo e sem pecado aceitaria obras que são como trapos da imundícia como preço pela salvação de um homem? Se aceitaria, por que Jesus morreu na cruz? Deus vai misturar o sangue de Jesus, santo e puro, com obras humanas que são como trapos da imundícia?

   Vamos fazer uma comparação. O que você acharia de um juiz que absolvesse um réu comprovadamente culpado? Certamente, você diria que esse juiz é injusto. Por que você acha que Deus, que é 100% justo, vai absolver homens que o próprio Deus, por sua Palavra, diz que são injustos e que são pecadores? Lembre-se: a Bíblia diz isso de todos os homens, inclusive eu e você.

   A única forma de haver salvação, de não haver condenação para o homem, é a reconciliação com Deus. Mas o que pode reconciliar o homem com Deus? As obras humanas? Trapos da imundícia vão ser aceitos como pagamento do pecado? Se vão, por que Jesus morreu na cruz?

   A Bíblia deixa claro que a reconciliação com Deus é pelo sangue de Jesus, e não por obras:

Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Romanos 5: 8-10)

   Será que Jesus é um salvador fajuto, que precisa de uma ajudinha humana?

   Não é o homem o reconciliador e o justificador. Deus é o reconciliador e o justificador. É por isso que o que reconcilia não vem do homem – não vem das obras –, mas sim vem de Deus: é a graça e o sangue de Jesus. Veja o texto abaixo, que prova que Deus é o reconciliador e justificador e que prova que a salvação é pela graça, por meio da fé no sangue de Jesus.

“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
    Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3: 24-26)

   Todos somos maus, porque Deus abomina o pecado, sendo que todos nós somos pecadores. Se Deus fosse esperar nossa bondade – nossas obras – para nos salvar, ninguém seria salvo. Mas é nisso que está o amor de Deus. Ele não espera que você seja bom para ser salvo. O evangelho não reside em que sejamos bons para merecermos salvação. O evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1: 16). Em João 3: 3, Jesus nos disse que ninguém pode ser salvo se não nascer de novo. O novo nascimento não é você ser bom, porque você (e eu também) nunca será suficientemente bom quando comparado com o perfeito padrão moral de Deus. O novo nascimento ocorre por atuação do Espírito Santo, que te leva a crer e entender que você não merece nada mais do que ser condenado ao inferno e que, por mais que você se esforce, você nunca poderá se salvar por teus méritos. Quando ocorre, você verdadeiramente crê e confia somente no sangue de Jesus e em mais nada para te salvar. Nenhum pastor, nenhum padre, nenhum sacramento, nenhuma obra pode te salvar. É só Jesus Cristo e mais nada. O novo nascimento ocorre quando o Espírito Santo te regenera e faz cessar a tua tentativa de se achar bom (no fundo, por mais que você queira negar, se você acha que as tuas obras vão te salvar, é porque você acha que você pode ser bom e que merece ser salvo). Ocorre quando o Espírito Santo te leva a jogar fora a tua justiça, a renunciar à tua justiça, a parar de achar que você pode fazer obras para se salvar. Ocorre quando você passa a confiar somente na justiça de Cristo Jesus. Ocorre quando você entende que todos os teus pecados foram definitivamente pagos por Jesus, como nos diz o texto bíblico, que nos mostra que o pecado que nos condenava foi lançado sobre as costas do único verdadeiramente justo e sem pecado (Jesus Cristo):

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Colossenses 2: 14)

   A salvação não é negociação tua com Deus. Não é algo como: faço boas obras e em troca Deus me leva para o céu.

   A salvação é imputação dos teus pecados a Cristo (e não são as obras humanas) e imputação da justiça de Cristo a você. Olhemos o que a Bíblia diz:

“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5: 21)

   O texto acima nos diz que Jesus não pecou, mas Deus lançou sobre Jesus nossos pecados, para que, em Jesus, nós sejamos feitos justiça de Deus.

   Já em Isaías, no Velho Testamento, Deus havia anunciado que assim seria, que não seria por obras, mas sim pelo sangue de Jesus. Deus já havia anunciado que nossa reconciliação com Ele seria pela morte de Cristo na cruz.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. (Isaías 53: 5-6)

   Leia novamente. Deus não diz que nosso pecado seria pago por obras. Deus não diz que salvaria quem fosse bom. Deus diz que Jesus foi castigado em nosso lugar e que é isso que nos reconcilia com Deus.

   Não há salvação sem arrependimento. A pessoa que acha que vai ser salva por obras nunca se arrependeu verdadeiramente. Por quê? Porque Quem acha que vai ser salvo por fazer boas obras nunca aceitou a justiça de Cristo. Nunca aceitou que Cristo pagou de forma suficiente o preço de nossos pecados (se você precisa fazer boas obras, assuma que você entende que o sacrifício de Cristo não basta). Quem acha que vai ser salvo por fazer boas obras ainda está confiando em sua própria justiça. Mas quem confia em sua própria justiça, ainda que diga ser cristão, rejeita o sacrifício de Jesus, rejeita a reconciliação com Deus, porque está querendo ser reconciliado com Deus por outro meio que não é o sangue de Jesus. Leia:

“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3: 24-26)

   Arrependimento envolve renúncia total à nossa justiça em favor da justiça de Cristo. Se você ainda espera nas tuas obras, ainda espera na tua justiça, você não se arrependeu. Pode até pensar que se arrependeu, mas nunca se arrependeu verdadeiramente. O fruto imediato da fé e do arrependimento é entender que nossa justiça não serve e que somente a de Cristo salvo. O homem arrependido vê sua podridão, reconhece seu pecado e sua incapacidade de se salvar e se lança aos pés de Cristo, renunciando à justiça humana e aceitando plenamente a justiça de Cristo.

   O procurar ser salvo por meio de obras é justiça humana, falha, incapaz de salvar. A lógica humana é algo como “sou bom, faço boas obras, serei salvo”. O homem pensa assim, porque, desde a infância, estamos acostumados a ser recompensados se fizermos boas obras. Mas para a salvação não é assim. A Deus aprouve salvar não pela lógica humana das obras, mas pela loucura da palavra da cruz (1 Coríntios 1: 18), pela graça.

   Salvação por obras representaria glória do homem, mas toda a glória pertence a Deus. Para ser salvo, o homem tem que sair do centro, tem que aceitar que o homem nada merece além de ser condenado, tem que aceitar que as obras humanas não salvam. O centro somente pode ser Jesus Cristo. Todo o mérito é de Deus na salvação. A salvação é para a glória de Deus. A Bíblia é clara: Deus não admite glória humana. A glória é toda de Deus, em Jesus Cristo, Salvador e Senhor dos que nele crêem, dos que renunciaram à religião das obras e abraçaram a graça de Deus.

“Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Efésios 2: 9)

“Para que nenhuma carne se glorie perante ele.” (1 Coríntios 1: 29)

   Até aqui, já vimos que a salvação é pela graça, por meio da fé. Mas por que Tiago tanto falou em obras? Vamos procurar entender.

   Vamos ver como Paulo e Tiago se encontram perfeitamente, nos fazendo cair de joelhos, maravilhados com a perfeição da Palavra de Deus.

   A salvação é pela graça, sem necessidade de obras. Mas é claro que, se nos arrependemos verdadeiramente, não vamos mais andar na vida de pecado. Podemos até vir a pecar, mas quem entendeu a razão da morte e ressurreição de Cristo e se arrependeu, nascendo de novo, vai fazer boas obras. Paulo e Tiago dizem a mesma coisa.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2: 8-10)

   O texto acima, extraído da carta de Paulo aos Efésios, nos mostra que Deus nos preparou para as boas obras. Assim como Tiago, Paulo disse que os crentes foram feitos para as boas obras.

   O que Tiago nos diz?

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
    Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
    Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
    Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2: 17-24)

   Nós precisamos entender o contexto da carta de Tiago. Tiago estava falando contra a hipocrisia. Ele falava para pessoas que diziam crer em Jesus Cristo – diziam ter fé –, mas não apresentavam uma vida condizente com o que se espera de alguém que tenha sido regenerado pelo Espírito Santo, alguém que tenha nascido de novo. O que Tiago estava afirmando, e com justa razão, é que uma fé verdadeira necessariamente vai conduzir a boas obras. Tiago estava acabando com a falsa fé daqueles que dizem que crêem, mas que continuam a viver como seus próprios senhores. Isso está absolutamente de acordo com o afirmado por Paulo, que disse que nós, os que cremos em Jesus, fomos feitos para as boas obras. É exatamente isso que Paulo diz em Efésios 2: 10 e em Romanos 6: 1-6.

   Harmonizando Paulo com Tiago, o que podemos entender é que a fé verdadeira vai conduzir às boas obras. As boas obras são conseqüência da fé, mas não são causa da fé. O caminho é: fui regenerado, fui salvo, faço boas obras. Isso está de acordo com Paulo e de acordo com Tiago, que disse “e creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça”. Vamos notar que Tiago não disse que as obras de Abraão lhe foram imputadas como justiça. Ele disse que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça. Tiago disse também que a fé de Abraão cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. As obras aperfeiçoam a fé, mas não causam a fé. A fé é que conduz às obras.

   Jesus disse “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15: 5). Vamos ler com atenção. O Senhor nos diz que somente com Ele podemos dar muito fruto, somente com Ele podemos dar boas obras. Estar com Jesus é crer nele. Jesus estar em nós é havermos sido regenerados, nascido de novo (João 3: 3; 2 Coríntios 2: 5: 17)), passando a ter em nós o Espírito Santo (1 Coríntios 3: 16; Efésios 4: 30, somente para exemplificar). O que Jesus nos diz é que, se não estivermos nele e Ele em nós, não podemos dar frutos que agradem a Deus. Então, primeiro temos de ter a fé. Aí, estaremos em Cristo e Ele em nós. A partir disso, daremos frutos, faremos boas obras. Será que Tiago negou o que Jesus ensinou? A única forma de entender que Tiago não negou os ensinamentos de Jesus (e não poderia negar, porque toda a Bíblia é a Palavra de Deus) é entender que Tiago não estava falando de salvação por obras, mas sim de que é hipócrita aquele que diz ter fé e nunca dá frutos.

   Deus nos regenera e nos reconcilia com Ele, pela graça, por meio da fé, para que façamos boas obras, para que demos frutos. É isso que Paulo e Tiago ensinam. É isso que Deus ensina, porque foi Ele quem inspirou as palavras usadas tanto por Paulo quanto por Tiago.

  Paulo diz que a salvação é somente pela graça, por meio da fé. Diz também que somos salvos e reconciliados com Deus para que demos frutos, para boas obras.

   Tiago, evidentemente sem contrariar isso, diz algo como “não me venha com hipocrisia de dizer que você tem fé, se essa tua suposta fé não te leva a boas obras”.

   Deus usou Paulo para nos ensinar teologicamente como ocorre a salvação.

   Deus usou Tiago para advertir aqueles que dizem ser crentes, mas que não dão frutos.

  É a árvore que faz os frutos ou são os frutos que fazem a árvore?   

  É claro que é a árvore que faz os frutos. Uma mangueira não é uma mangueira porque dá mangas. Uma mangueira dá mangas porque é uma mangueira. Uma mangueira dá mangas porque Deus a criou como mangueira.

   Jesus nos disse:

“Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.
Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.” (Mateus 7: 17-18)

Vamos analisar: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.”

Não poderia ser mais claro. A árvore é que é causa dos frutos. Árvore boa = bons frutos. Árvore má = maus frutos. Fé, vinda da graça, leva à salvação. Fé leva às boas obras. A fé é causa. As boas obras são conseqüência. Se obras humanas são necessárias à salvação, por que Jesus morreu na cruz? Não precisaria. Bastaria o homem fazer boas obras.

Você não pode dar bons frutos enquanto não nascer de novo, enquanto não renunciar à tua justiça e abraçar a justiça de Cristo. Jesus disse “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15: 5).

Pense bem: será que Deus quer que você faça obras como quem pretende trocar algo com Ele? Algo como: eu faço boas obras e em troca Deus me dá a salvação. O que tem os homens, que a Bíblia diz que são como gafanhotos diante de Deus, para trocar com Deus?

Definitivamente, o que Deus quer é que você creia e se arrependa, sendo salvo pela graça, por meio da fé, nascendo de novo. A partir daí, sim, você estará em Cristo e Ele em você. A partir daí, sim, você terá deixado de ser (não por fazer boas obras, não por merecer, mas somente por mérito de Deus) uma árvore má e terá passado a ser uma árvore boa. A partir daí, sim, você poderá dar bons frutos e tuas obras serão agradáveis a Deus, porque você não mais as fará como quem pretende trocar algo com Deus. Você fará simplesmente por ter entendido que Deus te amou tanto, a ponto de matar o Filho dele na cruz, e te salvou sem que você dê nada em troca. Você fará simplesmente por amor. Você fará simplesmente por ter sido comprado por amor, pelo sangue de Jesus, e não por obras humanas.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;(Efésios 2: 8-9)

          Será que Deus mentiu quando levou Paulo a escrever o que está acima? Ou será que mentiu quando levou Paulo a escrever o que está abaixo?
“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3: 24)

“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.” (Romanos 11: 6)

“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.”  (Romanos 3: 27-28)

          Não despreze o sacrifício de Jesus. Não tente colocar do mesmo lado da balança o sangue do único verdadeiramente justo com as tuas obras, que, como a Bíblia diz, são como trapos da imundícia.

          Ninguém vai entrar no céu dizendo “fui bom. Fiz boas obras. Mereci ser salvo”. Não se engane. Se você acha que tuas obras podem te salvar, você está achando que vai merecer ser salvo pelas tuas obras, que você é bom. Isso é falso evangelho. Isso é completamente contrário ao Sermão do Monte, no qual Jesus disse “bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5: 3).

          Um homem que se acha que bom diante de Deus, que pode merecer ser salvo por suas obras, jamais se arrependeu. Pobre de espírito é aquele que crê, que se arrependeu, que foi regenerado pelo Espírito Santo de Deus. O pobre de espírito não tem como dizer “fui bom. Fiz boas obras. Mereci ser salvo”. Se você espera salvação por obras, você pode até tentar negar, mas, lá no fundo, você está achando mesmo que suas obras são boas e que você merece ser salvo.

      O pobre de espírito diz algo como: “Deus amado, sei que meu coração é imperfeito e que jamais eu teria como alcançar o teu perfeito padrão moral. Reconheço que sou um pecador e que meu pecado te ofende. Entendo, Senhor, que nada mereço além de justa condenação. Mas, pela tua graça, creio no Senhor Jesus Cristo e me arrependo do meu pecado. Limpa meu coração, Senhor, para que a cada dia eu seja um pouquinho mais parecido com o Senhor Jesus Cristo. Senhor, a salvação é algo maravilhoso, mas eu compreendo, pela atuação do Espírito Santo na minha vida, que o Senhor, além de me salvar, me reconciliou contigo. Por isso, quero viver desde já em conformidade com a tua vontade, evitando o pecado e fazendo boas obras. Sei que não sou salvo por obras, mas quero fazê-las por te amar. Quero fazer boas obras não para ser salvo, mas por ser salvo. Sei que não mereço, mas sei que, pelo teu mérito e somente pelo teu mérito, Senhor, um dia te verei face a face. Purifica-me, Senhor, para honra e glória do teu nome.”

“TEM misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.
Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.
Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades.
    Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” (Salmo 51: 1-10)

            Como podemos ver, Paulo e Tiago se encontram e não se opõem. Afinal, ambos foram apenas meros instrumentos nas mãos do Criador do Universo.









Um comentário:

  1. Fracionar textos, pode tirar toda a intenção do contexto para uma inicial explicação... quando estamos querendo aborda tal tema, devemos analisar todo o texto, contexto, traducao(versão quanto as...), lingua de origem da escritura, pensonagem e intenção ao ouvinte,para podermos usar uma chave contextualizada para aplicação, por que se não, sera apenas passado apenas uma conjectura, o que queremos!

    De fato, Paulo e Tiago não estão indo contra a partida das referências "graça e obra", agora, usar texto fracionados, poderá ser um erro, se não se basear pelo contexto ou mesmo, toda a história!
    Graça e paz.

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